sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Explicar e corrigir...

Durante o tempo de aulas, normalmente eu fico em casa a realizar as tarefas necessárias com a Sofia e por volta das 18h mais ou menos a carrinha da escola vem trazer o Gabriel e a Clarinha a casa. Geralmente o Serge chega muito mais tarde e muitas vezes já depois da hora do jantar. Essa é a parte do dia mais engraçada mas também a mais cansativa com banhos, trabalhos de casa, jantar e brincadeira. Não sei como é possível fazermos juntos tantas coisas em pouco tempo... 

Eles chegam a casa sempre com vontade de falar como se não estivéssemos juntos há um ano. E geralmente a Clarinha ainda não desceu da carrinha e já grita: " Mamã, tenho um presente para ti!" ou " Hoje portei-me muito bem!" ou então : " Tive saudades tuas!"

Um dia destes, a Clarinha veio ter comigo calada enquanto o Gabriel contava o que tinha feito todo contente. De repente, ele parou e disse-me:
-" Mamã, hoje a Clarinha não se portou lá muito bem no refeitório."
-" Não era para dizeres, mano!" disse ela envergonhada.
-" O que se passou Clarinha?" perguntei-lhe.
- " O mano diz..."- respondeu ela.
-" A Clarinha não estava quieta na hora da refeição e começou a atirar papelinhos às suas amigas. Depois a Vera ( auxiliar) teve de a chamar à atenção e ela não parou logo."
- " Clarinha, sabes que tens de ficar quieta durante a refeição e obedecer à Vera e ao professor. O que se passou?" Ela com um ar envergonhado disse-me:
- " Mamã, mas eu queria brincar... Apetecia-me tanto...mas depois eu parei e portei-me bem"  

Eu podia ter respondido assim e terminado a conversa:
-" Não voltes a fazer o mesmo, tens de te portar bem e obedecer logo quando a Vera te fala.

Mas não. Eu não terminei ali. Aquela expressão " apetecia-me tanto" ficou na minha cabeça. E eu tinha de ir mais longe.

- " Clarinha, fazer sacrifícios, não são coisas que nos apeteçam, pois não? São coisas que muitas vezes não gostamos muito, mas quando sabemos que temos de as fazer e fazemos Jesus fica feliz, não é?  Não querias ajudar a salvar as almas do fogo? Sabes, não são as cordas que conseguem tirar de lá as almas, pois elas queimam-se e partem-se. Mas há uma coisa que as pode tirar de lá e não se queima."
Ela olhou para mim, sorriu e perguntou entusiasmada:
- " O quê, mamã?"
- " Os teus sacrifícios. São as tuas melhores prendas para Jesus. Ás vezes, podemos fazer aquilo que nos apetece outras vezes não. Sempre que tens de fazer uma coisa que não te apetece, podes oferecer para salvar uma alma do fogo! E não te esqueças, depois de pedirmos desculpa às pessoas quando não fazemos as coisas bem, sabes que tens de pedir desculpa a Jesus e pedir-lhe que te ajude a portar sempre bem, não é assim?"
Ela foi para o canto de oração e disse umas palavras muito baixinho, depois lá foi brincar.

Ela ficou a pensar naquela conversa e no outro dia disse-me:

- " Mamã, hoje já ajudei duas almas a sair do fogo. Achas que um dia vou ver essas almas?"
-" Quem sabe, Clarinha..." - respondi-lhe com um sorriso.

-" Queres que eu te leia de novo a história da Jacinta e dos pastorinhos?"
-" Siiiim, mamã!"
- " Senta-te aqui ao pé de mim..."

1 comentário: