terça-feira, 28 de julho de 2015

A verdadeira alegria de estar com o Senhor não passa

Sempre fui fascinada pelas passagens bíblicas e pelo testemunho dos Santos que perante as adversidades, muitas vezes as piores que podemos imaginar custando até a morte física, eram capazes de dar testemunho da alegria e da confiança em Deus.

A narração da prisão de Paulo e Silas, passou muitas vezes na minha cabeça e eu passava imenso tempo a imaginar: "Como seriam aqueles hinos cantados com o corpo cheio de sangue e de chagas abertas?" " Como teriam força para louvar a Deus presos, sem comida e ensanguentados com dores por todo o corpo?". Quase que conseguia imaginar aquelas vozes a ecoar pela prisão, aquelas vozes penetrantes, que só a fé nos pode dar, aquelas vozes que eram o espelho da vida dos seus corações que não estavam presos ao corpo mas a Cristo. Como eu gostava de ter estado lá e escutado aqueles hinos...

"...prenderam Paulo e Silas, e os levaram à praça, à presença dos magistrados.
E, apresentando-os aos magistrados, disseram: Estes homens, sendo judeus, perturbaram a nossa cidade,
E nos expõem costumes que não nos é lícito receber nem praticar, visto que somos romanos.
E a multidão se levantou unida contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes as vestes, mandaram açoitá-los com varas.
E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança.
O qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou os pés no tronco.
E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam."
Atos 16:19-25



Nesses testemunhos eu sabia que aí estava um grande segredo para eu viver na minha vida: Não perder a alegria. Sim, é difícil! Mas eu não o podia desperdiçar! Sim, não é impossível! É uma caminhada que se vai fazendo...

É necessário estarmos sempre gratos por tudo o que nos acontece, seja agradável ou não. É necessário aceitarmos o que já passou e entregarmos o futuro mais nas mãos de Deus, do que nas nossas próprias forças. Mas eu só comecei a perceber melhor na prática quando comecei a suplicar ajuda a alguns santos. Chamo-os sem cerimonias ou distâncias mas com o coração. Como eles estão disponíveis para nos ajudar! Eles são os nossos irmãos mais velhos e já fizeram o caminho.

Há dias que eu sinto muito a presença do Senhor, expresso o meu amor e falo muito com Ele, acontecem-me coisas muito sincronizadas, consigo realizar mil e uma tarefas e um amor muito grande enche o meu coração capaz de unir todo o mundo. Estava num desses dias quando senti no meu coração a voz do Senhor: "Não é neste dia que demonstras o teu amor por Mim"
Achei um bocado estranho, pois sentia muito a presença do Senhor.

Por outro lado, há dias que parece que tudo corre mal, vocês sabem bem o que isso quer dizer...
Pois bem, estava eu num dia desses, em que até a presença do Senhor parecia mais longínqua e me esforçava por rezar com fervor sem êxito. Senti dentro de mim algo como: " Eu dou-te a alegria se Me amares agora."

Sou desafiada a amar mais o Senhor nos meus momentos difíceis, nas contrariedades, nas fraquezas, quando tudo corre mal. Como o Senhor me enche de alegria simplesmente por aceitá-las.

Se as coisas correm bem, alegro-me, louvo e agradeço a Deus, todas as graças pois é Ele que permite.
Se as coisas correm mal, sei que tal como as boas estas também são passageiras, esforço-me por aproveitar ao máximo e vivê-las sem reclamar e poder oferecer este gesto de amor ao Senhor.

Perdemos muito tempo com medo de coisas que podem correr mal, fixos naquilo que julgamos ser mau na nossa vida. Será que o Senhor está a dormir nos nossos momentos difíceis? Eu não acredito e mais, eu sei que ele sabe o que é o melhor para nós. 

Porque colocamos tanto peso nas coisas sejam elas boas ou más e não simplesmente as aceitamos como são? Se simplificássemos não seriamos todos mais alegres?

Já repararam que as coisas boas ou más são passageiras mas a verdadeira alegria de estar com o Senhor não passa?


sábado, 25 de julho de 2015

Com os olhos a brilhar...

O normal para os meus filhos é verem tratores a passar na estrada, brincarem na terra ou na horta, construírem brinquedos, fazerem caminhadas nos pinheiros. Apesar disso, fico sempre maravilhada  com o entusiasmo e excitação com que brincam, como se realizassem sempre tudo pela primeira vez. A capacidade de verem em tudo coisas novas, quase diria de "nascerem de novo" cada dia e de reinventarem brincadeiras é algo que eu também tenho de pôr em prática nos meus desafios do dia-a-dia que muitas vezes se repetem.






Os olhos do Gabriel e da Clarinha brilharam, quando viram ao longe o comboio e muitos autocarros a passar na estrada movimentada da capital. 

-" Mamã, podemos andar de comboio...por favor!" pediam os dois enquanto olhavam pelo vidro da janela.

Eu que sou lisboeta ( apesar de o meu coração sempre pertencer à Aldeia), vivi até me casar na capital e andei de todos os meios de transporte diariamente, diverti-me imenso a andar de comboio e de autocarro nas ruas movimentadas da cidade com três crianças que não paravam de falar e a observar tudo...


Ri para mim mesma, ao pensar que a mesma reação têm as crianças que nos vêm visitar da cidade, quando observam as cabritas, os tratores ou vão connosco brincar na ribeira...

Ficar com os olhos a brilhar, com o coração cheio de entusiasmo e alegria é tão bom e abre-nos a alma para escutar o que o Senhor nos tem a dizer.

No meu coração ia meditando... 

Quantas crianças são privadas de ficar com os olhos a brilhar e com o coração cheio de entusiasmo com a presença do Senhor? 
 Quantas crianças ainda não descobriram o que é rezar em família? Quantas crianças ainda não tiveram a oportunidade de ficar com os olhos a brilhar simplesmente porque iriam participar num encontro de famílias com outras crianças? 
Se damos oportunidade aos nossos filhos de ter experiências novas que não fazem parte do seu dia-a-dia e que são enriquecedoras porque não lhe damos o presente de estarem com outras crianças a louvar o Senhor?

Venham... Um dia também os vossos filhos chamarão outras crianças e juntos ofereceremos muitos corações ao Senhor!

 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O nascimento da Sofia e o Senhor

Dos três partos o único que o Serge não esteve presente foi o da Sofia. Sabíamos à partida que era uma situação que poderia acontecer uma vez que ela iria nascer em Dezembro e o Serge tinha muito trabalho nessa altura. Estávamos à distância de duas horas e tal e como era o terceiro parto tudo podia acontecer. Mas isso não foi impedimento de ter vivido uma experiência muito intensa, eu diria até mais, foi o parto em que eu estive mais próxima do Senhor.
Quando fiz as quarenta semanas fui observada no Hospital.
-" Não há dúvidas, a Senhora está a entrar em trabalho de parto. Fica já internada." Esta foi a indicação que o Serge e eu ouvimos. O nosso olhar foi cúmplice. Estava quase a chegar a hora e até calhava bem pois ele estava ali ao pé de mim.

Fui internada. Quem me observava era unânime: bastava provocar o parto e a Sofia nascia, além disso, ela já devia estar bem pesadinha. Eu sempre desejei respeitar o tempo de cada coisa, esperar o tempo de Deus, estar atenta aos sinais, tentar não interferir. Eu perguntava sempre que era observada:
-" Está tudo bem comigo? Está tudo bem com o bebé?"
Se sim, porque tinha eu que decidir qual o dia em que ela iria nascer? Eu preferi esperar.
Estive internada duas vezes ( porque os médicos me diziam que estava em trabalho de parto, mas na verdade ainda não era a hora), cada uma das vezes, 2 ou 3 dias e na terceira vez que estive internada foi quando a Sofia nasceu.

Enquanto estive internada das duas primeiras vezes, havia alturas que já tinha bastantes contrações que alternavam com momentos em que não tinha nada. Os médicos diziam para eu caminhar para acelerar o trabalho de parto. A verdade é que nunca estive parada e o Senhor me proporcionou uma experiência que jamais me vou esquecer. Dessa experiência guardo muitas memórias que mais tarde espero poder contar à Sofia.

Enquanto caminhava pelos corredores do Hospital, conheci muitas histórias, falei com muitas grávidas, conheci muitas vivências dolorosas, com medos, sem fé. Eu estava lá, quando algumas grávidas entraram de emergência no hospital. Lembro-me de ir cumprimentar várias vezes por dia uma grávida que não parava de vomitar sempre que comia e que estava a soro. E as mulheres que tinham sido internadas comigo pela primeira vez já tinham todas tido os bebés, algumas tive a oportunidade de me despedir e visitar. Enquanto falava com uma grávida no corredor e meditava naquilo que acontecia à minha volta, disse comigo mesma: " Eu tenho que descobrir a capela do hospital!" E comecei a perguntar às pessoas se sabiam onde ficava a capela.
- " Capela?! Mas um hospital também tem capela?" E eu com um sorriso, sem responder, lá continuava  a tentar encontrar informações. Finalmente lá encontrei a capela. Abri a porta e senti um silêncio na alma. Estava vazia. A capela estava muito fresca, havia um silêncio profundo que até se ouvia o eco dos pequenos barulhos ao caminhar.  Falei com o Senhor no meu íntimo. Precisava tanto de sentir a Sua presença junto de mim, ter a graça e a benção do Senhor no parto da Sofia. Pedi também por todos os bebés que eu sabia que iriam ser abortados naquele dia, mesmo após de eu ter tentando falar com algumas mães, elas já estavam decididas...Mas supliquei de novo ao Senhor. Na porta, um contato de telemóvel, do capelão.
Não hesitei. Liguei logo para o número do capelão e disse-lhe: " Eu preciso de me confessar antes da minha bebé nascer!" Ele muito simpático e disponível marcou logo uma hora para me confessar.
Além da confissão, pude receber Jesus. Que alegria para mim! Senti-me tão abençoada, tão cheia de graça!"

Passado poucos dias a Sofia nasceu. Em duas contrações fortes ela saiu. Com a ajuda da enfermeira, eu puxei-a cá para fora e cortei-lhe o cordão umbilical. Ela mal saiu da minha barriga, ficou coladinha a mim, só coberta por uma manta, a mamar. Foi uma experiência fantástica do amor de Deus! Eu só me sentia grata por tudo. Fui encaminhada para um quarto com mais três mães e os seus bebés. 
No dia seguinte, na hora da visita, todas as mães tinham os seus acompanhantes e familiares. Nessa altura, eu estava a falar com uns familiares da mãe da cama ao meu lado. De repente, com um grande sorriso, vejo entrar no quarto o sacerdote que me confessou e uma irmã, que também era enfermeira.
-" Parabéns, mamã! Já soube que teve a sua menina! Venho-lhe trazer Jesus!"
Eu abracei-o e agradeci a visita.Como estava contente de poder receber Jesus de novo!

Ele disse-me:
-" Vamos fazer as orações antes de receber Jesus?" Eu acenei com a cabeça.
-" Em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo..."
Senti o olhar espantado e curioso de quem estava na sala, mas estava tão feliz que depressa me esqueci de tudo à minha volta. Naquela sala, durante uns minutos, dei testemunho público de que era católica e que amava o Senhor. Como eu desejo que o meu testemunho seja toda a minha vida...

Ao me despedir do sacerdote, a minha colega de cama disse-me:
-" Tens muita fé, não é?" Eu não me lembro das palavras, nem da minha resposta mas lembro-me de sorrir, pois estava muito feliz.

Mais tarde, ao deitar-me na cama para descansar, lembro-me de que a minha alegria se misturava com a tristeza de saber que muitas das almas que estavam ali não conheciam a graça de receber Jesus nem a benção que é ter um sacerdote...

Na verdade todos os momentos mais importantes da minha vida:  o meu casamento, o batizado dos meus filhos, os retiros espirituais, a caminhada da Aldeia de Caná em Proença são ou foram marcados com a presença e dedicação de um sacerdote. Sem ele como poderemos receber Jesus?

Partimos do pressuposto que ter perto de nós um sacerdote, é um dado adquirido, mas não é verdade! Quando compreenderemos o valor imenso que é a vida de um sacerdote?
É fácil criticarmos, encontrarmos defeitos... mas alguém se lembra  das dificuldades que eles passam na paróquia? Seremos nós capazes de apoiar, elevar, defender os sacerdotes das nossas paróquias? Um sacerdote é o rosto do Senhor na terra...


terça-feira, 21 de julho de 2015

A grande alegria da Aldeia de Caná de Proença-a-Nova

O nosso encontro mensal das Famílias de Caná de Julho era aguardado por todos com muita alegria e expectativa. Na verdade, não iriamos ter um encontro mas sim, um dia inteiro de retiro! Um dia que marcaria definitivamente a nossa Aldeia, onde as famílias puderam beber da fonte das origens das Famílias de Caná. Já há quatro meses que eu falo de como tudo começou e até já lhes tinha mostrado fotos da Família Power. Que alegria foi para todos poderem ouvir os ensinamentos da Teresa e abraçá-la pessoalmente e conhecerem o Niall, sempre de um lado para o outro a trabalhar, sempre com o seu ar bem disposto sempre pronto para brincar com as crianças. Os seus filhos misturaram-se com as crianças do grupo e faziam novos amigos. Sentimo-nos mais próximos, sentimo-nos verdadeiramente  família.


 Os momentos vividos encheram a "bilha" do nosso coração com muito amor, aquele amor que só Deus nos consegue dar...


A nossa caravana era muito numerosa e caminhava ao ritmo dos carrinhos, das conversas e das crianças mais pequenas que nos davam as mãos. Aos poucos todos chegaram à Igreja matriz de Proença-a-Nova e assistimos à missa dominical com a paróquia. Que belo testemunho foi dado simplesmente pela nossa presença! 





O nosso almoço partilhado é sempre vivido em clima de festa



Desta vez, a festa foi a dobrar,  cantámos os parabéns à nossa querida Paula, mãe de três lindas meninas da nossa Aldeia de Caná.




O espetáculo de ilusionismo do Francisco, encheu a sala de gargalhadas e sorrisos. Como sempre, muito belo e inspirador!







Eu estive o dia inteiro dedicada aos mais pequenos. Trabalhando a raiz bíblica das Famílias de Caná, pintámos, desenhámos, conversámos e cada um moldou a sua bilha. A todas as famílias que participaram neste retiro, gostaria que soubessem que os vossos filhos se portaram muito bem, e mais do que isso, pude perceber que a " bilha " dos seus corações estava repleta do Amor de Deus e que todos tinham um grande amor à sua família. Continuem a rezar com eles e a falar de Deus, escutem o que eles têm para vos contar. Obrigada a todos por esta oportunidade. 



Não tenho palavras para vos dizer o que sinto de tudo isto.... Só vos peço: venham também e juntem-se a nós!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

A nossa casa

Desde que a nossa família nasceu já tivemos muitas moradas. Vivemos em Cascais durante um tempo, no Brasil, em casa dos meus avós e hoje na casa da Paz, como os mais pequenos lhe chamam.  Sei que tudo o que tenho na minha vida é dádiva de Deus e tem um propósito. Esta casa onde moramos agora é fruto da providência e do Amor de Deus que chegou até nós, pelas mãos amorosas dos nossos pais e avô. A casa e o terreno estavam em ruínas e aos poucos fomos arranjando. Há tanta coisa ainda para acabar, pintar, arranjar. Não sei se ela alguma fez vai estar acabada, pois há sempre coisas que podemos melhorar, alterar e adaptar em função do crescimento das crianças. 
Sim, como era bom, ter já tudo arranjado, sem sinais de obras, mais arrumação e uma horta bem cuidada sem ervas...
Muitos casais quando se casam preocupa-se em ter logo uma casa pronta e vivem e trabalham a pensar nisso acima de tudo. O Senhor bem sabe que temos de ter o necessário para viver, uma casa, bens materiais, um trabalho. Mas nunca nos devemos esquecer que devemos viver e trabalhar nesta vida para construirmos do outro lado a nossa verdadeira casa. Com os nossos gestos de amor verdadeiros construímos tijolo a tijolo a nossa casa no céu e essa casa é para sempre! Tenho descoberto a riqueza de ir construindo aos poucos, na espera e simplicidade os pequenos recantos da nossa casa e confiar que todos estamos aqui de passagem nesta terra. Na verdade, não me sinto apegada à nossa casa. Gosto muito de cá estar com a minha família mas desejo sentir-me em casa em todas as casas onde o Senhor me chamar a servir. Só uma coisa é importante para mim, levar o coração cheio da presença do Senhor onde quer que esteja! 

-" Olha, Clarinha, uma casinha de madeira tão engraçada! O teto abre e fecha e lá dentro tem um espaço vazio... ficava engraçado colocar lá dentro uma imagem pequenina de Jesus, não achas? A nossa casa é qualquer casa onde Jesus esteja lá dentro, não é?"- Ela acenou com a cabeça- " Tu sabes onde é a nossa verdadeira casa?"
- " No céu!"- respondeu ela com um sorriso.
-" Lá em cima fica o céu e cá em baixo a nossa casinha, não é? Espera aí um pouco que vou buscar a máquina para te tirar uma foto! "


- " Espera aí, mamã! também quero que me tires uma foto!"- disse o Gabriel a correr enquanto pegava na casinha.
- " E tu sabes a resposta? Onde fica a nossa casa?"
-" No céeeeuu!"



Hoje antes de rezarmos o terço, o Gabriel disse-me:

- " A nossa vida é como se estivéssemos de férias!"
-" Como assim?"
-" As férias passam rápido, como o nossa vida que pode ir no máximo até aos 100 anos mais ou menos e nas férias dormimos em tendas, que não são as nossas casas verdadeiras. Quando acabam as férias vamos para as nossas casas e dormimos lá sempre, como no céu."

Será que paramos para pensar e nos apercebemos que esta vida é passageira? Nesta vida dormimos em tendas, porque nos preocupamos tanto com coisas que passam? Porque  ocupamos tanto a nossa cabeça em ter mil e um utensílios em casa  e nos esquecemos de dar prioridade á única coisa que é necessária: seguir o Senhor. Porventura levaremos connosco os nossos bens, a nossa casa quando morremos? 
E se o Senhor nos chamar amanhã? Será que temos uma casa pronta pelos nossos gestos de amor lá no céu?

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Fazer a diferença

Tenho consciência que todos os dias me é colocado um desafio no meu coração. Aliás, não é somente um desejo meu, é acima de tudo algo que persiste na minha consciência e não me larga e mesmo que eu finja não escutar ou não ver, é algo que não desiste de me alertar. É como um sinal vermelho que se acende e não apaga até que eu termine o que tenho que fazer. Sim, é verdade, muitas vezes não sou fiel a esse sinal e finjo não o ouvir ou ver. Eu chamo-lhe o meu grande desafio diário. Chamo-lhe grande porque é realmente transformador para mim quando o sigo, mas na verdade a maior parte das vezes é invisível aos olhos dos outros e consigo realizá-lo principalmente nas coisas pequeninas. O meu grande desafio diário é fazer a diferença onde quer que eu esteja, quer eu esteja fechada em casa a limpar ou a cuidar dos meus filhos ou quando passeio na rua ou quando encontro amigos. Em cada tarefa, em cada pessoa que encontro, em cada circunstância que me apareça, acende-se a luzinha vermelha e a pergunta: " Estarei eu a melhorar o espaço onde estou? Estarei eu sempre que encontro alguém ou me cruzo com alguém a elevar essa pessoa, a deixá-la mais feliz e esperançosa?"                                                                                                       

Quando estive no parque com as crianças, por exemplo, uma das meninas que estava connosco disse-me que queria ir à casa de banho. Eu acompanhei-a. Numa das divisões um autoclismo corria água que não parava. As pessoas passavam e não ligavam. "Para quê, ligar? Não fui eu que deixei a água a correr e além disso estamos numa casa de banho pública!" Este parecia ser o pensamento de todos. Um cristão não pode ser indiferente às pequenas coisas. Um cristão tem de lutar contra um coração de pedra, frio, indiferente a tudo o que acontece à sua volta, a um coração medroso, sempre com medo do que os outros vão pensar. Somos chamados a fazer a diferença e a  agir em toda a parte como se estivéssemos em nossa casa e cuidar de tudo e de todos com igual amor.  Sei que não é uma tarefa fácil! Mas mesmo que quisesse fingir que não ouvia era impossível, lá estava a luzinha vermelha a me chamar. Lá fui eu. Carreguei simplesmente de novo no botão do autoclismo e a água parou. Que coisa tão simples! 

Achariam estranho, se o Senhor um dia mais tarde me pedisse contas de toda aquela água que tinha sido desperdiçada se não agisse? Tudo o que acontece à nossa volta somos de certa forma responsáveis.

Quando passeamos na rua, será que a nossa presença ajuda os outros? Será que nos preocupamos em deixar a rua mais limpa do que estava antes de passarmos ou nem ligamos e deitamos para o chão aquele lenço minúsculo porque o caixote do lixo ainda ficava longe? E se virmos uma garrafa no chão passamos ao lado e não a apanhamos só porque não fomos nós? 

Quando passeio na rua gosto de sorrir para as pessoas discretamente. Gosto de arrancar sorrisos de quem passa e acho engraçado a reação e o olhar de quem me observa com três filhos agarrados a mim no passeio ou a falarem e a pedirem coisas ao mesmo tempo. Acho que as pessoas saem mais divertidas da rua quando cruzam connosco e me vêem!

Quando conheço alguém ou me cruzo com alguém pela primeira vez ou mesmo que já a conheça bem, o Senhor me mostra sempre  que todos têm qualidades, sem excepções. Procuro encontrá-las. Mesmo que sejam poucas ou insignificantes elas são o tesouro, através do qual o Amor de Deus pode entrar nas suas vidas. Procuro elevar as pessoas mostrando-lhes tudo aquilo que ainda podem fazer de bom com as suas qualidades.

Na verdade, todos nós temos esta luzinha vermelha dentro de nós que nos chama a agir, que nos desafia diariamente a fazermos a diferença!  Estaremos nós dispostos diariamente a sermos fiéis a ela nos pequenos gestos? Acreditem que é trabalhando as pequenas coisas, os gestos simples do dia-a-dia que mudamos o mundo e experimentamos a verdadeira alegria de ser de Cristo!



quarta-feira, 15 de julho de 2015

O poder da oração

Lembro-me, como se fosse hoje, da sensação de achar que não era atendida nas minhas orações no tempo de faculdade. Lembro-me da sensação de achar que caminhava sozinha. Na verdade eu sentia-me confusa, queria avançar no curso, mas não conseguia. Porque parecia que todos à minha volta estavam a conseguir alcançar os seus objetivos e eu não? Porque parecia que tudo dava errado comigo?

 Hoje o Senhor já me tem dado muitas respostas e com certeza outras ainda virão no futuro. Hoje eu quero confiar verdadeiramente que o Senhor está sempre ao meu lado e cuida de mim e que sempre me conduzirá ao caminho que me levará a ser feliz. Muitas vezes, as Suas respostas não são na altura, nem da forma que eu desejaria. Muitas vezes Ele deixa-me sem uma resposta aparente e observa-me à espera do meu gesto de amor mais puro e confiante... e depois disso Ele vem. Ele sempre vem, sempre. É este o meu ato de maior confiança no Senhor, eu creio que Ele sempre virá, mesmo que por vezes pareça tardar na minha vida.

Eu acredito muito no poder da oração. Não da oração decorada e verbalizada de qualquer forma, mas daquela oração feita com fervor, feita com o coração, feita com a certeza que só o Senhor nos poderá valer e socorrer. Muitas vezes a minha oração também é morna e rotineira principalmente quando estou muito cansada. Sempre que me apercebo disso tento que o meu coração se inflame de amor.
Uma oração é como um balão de ar quente, precisa de uma chama acesa para se poder elevar e chegar ao céu.

Na semana passada estivemos fora de casa. Ao chegar à hora da nossa oração familiar já tínhamos escolhido o nosso cantinho de oração. O local perfeito para louvar e agradecer ao Senhor durante aqueles dias.


Depois de todos agradecerem pelo dia, é a vez da Sofia agradecer. Esta é a sua forma de agradecer. Que feliz deve ficar o Senhor com o beijinho da Sofia!


A Clarinha quando olhou para o nosso cantinho de oração, ficou a olhar para Jesus e depois foi a correr para o jardim. Voltou cheia de florinhas e alguns raminhos de alfazema que colocou para perfumar os pés de Jesus.


Enquanto a observava, fiquei encantada com a delicadeza do seu trabalho.






Num dos dias da semana, depois do almoço, o Gabriel e a Clarinha estavam a brincar no jardim e eu chamei-os:

- "Gabriel, Clarinha, venham cá!"
-" O que foi mamã?" - responderam em simultâneo ao verem fraldas de pano sujas no chão.
-" A Sofia não pára de vomitar. Já vomitou 5 vezes seguidas..."
-" Liga ao papá!"- disse o Gabriel.
-" Espera... primeiro vamos juntos pedir a Jesus que ajude a Sofia a ficar boa.." Fomos os quatro para o cantinho de oração e de joelhos pedi que cada um falasse em voz alta a Jesus pedindo pela saúde da Sofia. Assim foi e cada um voltou para a brincadeira. Pequei na  Sofia e levei-a para o jardim para apanhar ar. Lá, ela teve 2 vómitos insignificantes e depois adormeceu lá fora. Passado uma hora acordou toda contente e bem disposta. Voltámos a agradecer ao Senhor com o coração cheio de alegria...

Ao chegarmos a nossa casa, tinha uma máquina de roupa para fazer. Ao ligar a máquina, ela não estava a funcionar corretamente. Fiquei um bocado aflita, pois como iria fazer com tanta roupa para lavar? Voltei a chamar o Gabriel e a Clarinha.

-" Preciso da vossa ajuda!" - disse-lhes- " Se rezarmos juntos talvez Jesus ajude a mamã."
-" O que se passa, mamã?"- perguntou o Gabriel.
-" A máquina não está a funcionar...preciso muito que ela trabalhe."
Eles aproximaram-se ao pé de mim e só disseram:
-" Jesus, ajuda a mamã!" Agradeci-lhes a oração. Desliguei a máquina e voltei a ligá-la, daí a pouco tempo  ela começou a funcionar lindamente. Olhei para eles e disse-lhes:

-" Nunca se esqueçam, o que Jesus nos tem ajudado! Quando tiverem uma dificuldade peçam a Ele sempre. Para Ele nada é impossível mas temos que rezar e pedir... com fé!"


terça-feira, 14 de julho de 2015

Gestos de amor vividos entre famílias

Sem dúvida que um dos melhores momentos que temos é o tempo que passamos em família! Seja na nossa terra ou de férias noutro local, aqueles momentos simples enchem-nos o coração e a alma. 

Quase que sinto o Senhor a caminhar ao nosso lado à beira mar...


E aquele pôr do sol que nos faz parar e agradecer...


Molhar os pés na água salgada e ouvir as risadas dos mais pequenos a brincar...


Ir a um parque e estender uma manta na relva, levar o almoço...


...e ver os mais pequenos a brincar e a comer gelado



Coisas simples mas se vividas com verdadeira alegria são momentos mágicos e acredito que até de grande testemunho e inspiração para quem nos vê... Não estaremos nós também a falar de Deus aos outros quando temos gestos de amor?

E se esses gestos de amor forem vivido entre famílias?
O Senhor nos tem mostrado que a nossa família é muito maior do que imaginamos. A nossa família também são todas as famílias que querem "fazer tudo aquilo que Jesus disser", são as famílias que buscam a coragem do "sim" mesmo sabendo que falham muito, que querem viver na verdadeira alegria, simplicidade. Sim, já somos muitos, há famílias de Caná um pouco por todo o lado.

Temos aproveitado para viver ao máximo os nossos momentos de família, com famílias e a nossa alegria tem saído multiplicada.

Como é bom sentirmo-nos e estarmos em casa em qualquer parte.

Sábado, foi um dia especial. A Ana e o Miguel, a Carmina e o Edu estiveram connosco. Sem falar das crianças que no total eram nove. Os abraços, os sorrisos, as saudades... muita conversa. E porque  além de sermos amigos, somos Famílias de Caná não podiam faltar as bodas! Sim, fomos muito bem recebidos na casa da Ana e do Miguel onde jantámos. As crianças brincaram, fizeram desenhos e tivemos direito a sobremesa e música! Coisas simples mas quando partilhadas com amor são os tesouros que nos falam do amor de Deus. São as pedras preciosas que guardaremos no nosso coração quando chegarmos a casa, à nossa verdadeira casa, o céu...



E eu fico a pensar...

Será que há algum tipo de problema que nos poderá abalar se nos unirmos entre famílias na alegria e nas dificuldades tendo o coração totalmente consagrado ao Senhor?

Se não nos unirmos, como o Senhor poderá resolver os nossos problemas? Se não nos unirmos, como ouviremos a voz do Senhor, como sentiremos o Seu braço a agarrar o nosso e a nos amparar nos momentos difíceis? Se não nos unirmos será que verdadeiramente estamos a "fazer tudo o que Jesus nos disser"?

sábado, 4 de julho de 2015

O nosso testemunho e o milagre

"A Igreja deve servir Jesus nas pessoas marginalizadas, abandonadas, sem fé, decepcionadas com a Igreja, prisioneira do próprio egoísmo. Sair significa ainda ‘rejeitar a autorreferencialidade’ em todas as suas formas; saber ouvir e aprender de todos, com sinceridade humilde”. Estas são palavras do Papa Francisco e me fazem meditar muito.

Muitas são as famílias que se sentem à margem do Amor de Deus, muitas são as famílias que não encontram o seu lugar na Igreja e se sentem decepcionadas, sem fé, muitas vezes julgadas pelos que estão dentro da Igreja pelo seu passado...

Estaremos nós a saber acolher as famílias que se sentem à margem nas nossas comunidades levando-lhes o Amor de Deus ou simplesmente acomodamo-nos e pensamos: " Esta família é um caso perdido! Nem vale a pena tentar falar de Deus..."?
Ora, oiçam bem o nosso testemunho:
Mal soube de uma ou outra família que estaria interessada em participar nos nossos encontros de famílias em Proença fui logo sem demora falar com elas e abrir o meu coração. Queria ver os seus rostos, perceber o que estavam a viver, as suas dificuldades. Desejava também que elas ouvissem a minha voz e sentissem o meu entusiasmo e desejo de caminharmos juntos... Ao expor a proposta dos encontros, todas estavam entusiasmadas para começar.
Os encontros começaram e uma das famílias não apareceu nem no primeiro , nem no nosso segundo encontro.  Na hora do lanche partilhado, do segundo encontro, enquanto estávamos todos  a comer, houve uns instantes de silêncio e eu fui impelida a falar, quer desejasse quer não. Olhei nos olhos de duas mães e comecei assim a conversa do nada:

- " Eu sei que vocês olham para mim como se fosse perfeita a  nossa família! Não é verdade! Nós não somos tão virtuosos ou fomos tão virtuosos como vocês pensam! Vocês pensam que eu estou à vontade para falar, mas não é verdade. Quem me conhece sabe que sou bastante reservada e até tímida. Já ofendemos muito o Senhor! A nossa família também é fruto da misericórdia e do perdão de Deus! Tanto eu como o Serge andámos muito tempo afastados da Igreja e apesar de buscarmos o amor de Deus em tudo, andámos muito longe dos sacramentos e dos mandamentos de Deus. A nossa família começou assim: eu o Serge conhecemo-nos num encontro no Alentejo no qual se abordava muitos assuntos diversos como a educação, agricultura biológica, entre outros. Quando começámos a falar, era impressionante a quantidade de coisas que tínhamos em comum e dos nossos desejos para o futuro. Desejávamos formar uma família com valores, viver as coisas simples da vida e servirmos os outros. A Igreja não fazia parte das nossas vivências mais profundas, apesar de Deus estar sempre presente. A sintonia foi tão forte do nosso encontro que o nosso namoro, amizade começou logo ali. Ao falar com a minha amiga que tinha vindo comigo para aquele encontro disse-lhe: " Desculpa, já não vou voltar contigo para Lisboa. Encontrei alguém muito especial..." Sim, eu sei que sou um pouco maluca mas aconteceu mesmo assim. Nem passado um mês de conhecer o Serge fiquei grávida do Gabriel. Não tínhamos planeado que fosse assim, mas ficámos ambos muito felizes! Sentíamos um amor muito grande um pelo outro. Naquele mesmo dia, falámos com os meus pais e os pais do Serge e decidimos casar pela Igreja, não com a convicção do sacramento em si, mas sim porque queríamos ter a benção de Deus e reunir a família dos dois lados. Quando estava grávida de três meses do Gabriel, casámos e foi uma cerimonia muito bela e muitas graças foram derramadas sobre nós. Só mais tarde saberíamos o quanto! A nossa família não começou da maneira perfeita, mas o senhor não desistiu de nós! Mostrou-nos os nossos erros e nos deu força para caminhar! Acham que Deus nos ama menos ou mais pelo nosso passado em relação àqueles que fizeram toda a caminhada dentro da Igreja? Deus ama-nos da mesma forma e com a mesma intensidade. Deus ama todas as famílias da mesma maneira. O que fariam se ouvissem esta história e não soubessem que era a nossa?"...



 Depois de falar senti que um peso tinha saído do ar que respirávamos e os seus rostos ficaram luminosos e cúmplices com o meu. Afinal, todos temos coisas para contar em que ofendemos a Deus, o que importa é o que vivemos no momento presente, o que importa é a intensidade do amor que trazemos no coração para dar a Deus. O Senhor ao ver o nosso arrependimento apaga as nossas faltas e sem demora traz-nos uma túnica que coloca nos nossos ombros e no dedo um anel e diz: " Tu és o meu filho muito Amado!"

O milagre estava para acontecer no encontro seguinte das famílias.
No terceiro encontro, o meu coração encheu-se de alegria pela família que nunca tinha aparecido e emocionada partilhou que lhe tinham contado o nosso testemunho e que por causa dele estava ali. Tinha medo dos julgamentos e não sentia que podia fazer parte desta caminhada connosco.

O meu coração se encheu de amor e repeti várias vezes: " Tu és muito amada! O senhor te ama muito e o teu lugar é aqui!"

Que nenhuma família se sinta envergonhada com o seu passado! O Senhor quer recolher todas as famílias que se sentem à margem, fora dos modelos perfeitos. Há um grande exército de famílias que estão à margem da Igreja e que o Senhor quer tocar, operar milagres, devolver a fé, a esperança e construir um mundo novo. O Senhor tem um plano para cada uma delas. Não existem casos perdidos, com Deus tudo é possível! Tenho mais fé nas famílias aventureiras, que arriscam, que buscam e que querem servir o Senhor de todo o coração, mesmo sabendo que são imperfeitas, que saibam :" ‘rejeitar a autorreferencialidade’ em todas as suas formas; saber ouvir e aprender de todos, com sinceridade humilde", como o Papa Francisco fala, do que aquelas que muitas vezes caminharam sempre certinhas, e até têm um lugar certo na Igreja. Precisamos de famílias que queiram amar o Senhor de todo o coração e isso basta! Precisamos de todas as famílias, as que estão dentro da Igreja com a chama acesa pelo Senhor e as que estão fora desejando encontrar o Amor de Deus...

Estaremos nós preparados como Igreja para não julgarmos as famílias pelas aparências do seu passado, não julgando mas agindo com amor, sabendo acolhe-las e elevando-as para que sintam que também elas têm um lugar na Igreja?

Eu não sei a vossa resposta, mas sei o que o Senhor espera de mim: reunir aquelas que já perderam a fé e levá-las a sentir o Amor de Deus...


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Recomeçar

-" Mammmãããã!"
- " O que se passa Gabriel?"
-" A Clarinha e a Sofia voltaram a destruir e a mexer nas minhas construções! Tenho de começar tudo de novo!"
-" Acalma-te... Olha, em primeiro lugar tu já sabes que tens de deixar as tuas coisas bem arrumadas e fora do alcance da Sofia. Depois, senta-te aqui ao pé de mim que vou contar-te uma história..."
O Gabriel, sentou-se comigo no sofá muito aborrecido.
-" Sabes, quando a mãe andava na escola tinha uma disciplina chamada técnicas laboratoriais de Biologia e Química. Eu tinha que fazer os relatórios da experiências que fazia e gostava sempre de fazer tudo bem perfeitinho. Eu tinha um computador muito lento, daqueles antigos e a parte escrita do trabalho fazia-a nele. Muitas, muitas vezes... eu já estava no final do trabalho e de repente.... o computador desligava-se e eu perdia todo o trabalho e tinha que começar tudo de novo... Lembro-me no início de ficar muito chateada. Houve um dia que eu decidi não ficar chateada, pois  percebi que não ia resolver nada, isso não ia fazer o trabalho aparecer de novo e depois reparei que demorava o dobro do tempo a terminar a segunda vez, pois tinha de pensar tudo de novo! Quando eu reclamava perdia energia e esquecia-me das palavras que tinha usado. Quando me concentrava em recomeçar logo, sem reclamar, as palavras vinham todas e acabava mais rápido!
Há coisas que acontecem que nos deixam tristes ou chateados, mas já aconteceram! Não há nada a fazer! Achas que reclamar vai resolver alguma coisa? Achas que o trabalho vai aparecer de novo feito sozinho?
Quando acontecer de novo, quando perderes tudo e tentares ganhares força para recomeçar concentra-te só em lembrar-te o que tinha ficado bem feito e pôr logo em prática, antes que te esqueças!"

Cá em casa, estou a tirar o doutoramento do recomeçar. Eu passo a explicar: arrumo a cozinha e passados nem cinco minutos tenho a cozinha desarrumada e mais loiça para lavar. Volto a arrumar como se fosse a primeira. Vale a pena, reclamar? Se estiver muito cansada, levo-os a passear um pouco, ou tomam um banho de mangueira e depois voltamos e todos participam na arrumação...






Muitas vezes  ao longo da vida, Deus chama-nos a perder algo, muitas vezes essencial para nós  e faz-nos o convite de recomeçar. Recomeçar para descobrirmos algo novo! Recomeçar para melhorar algo. Se ficarmos presos naquilo que perdemos, perderemos a oportunidade de ver os milagres que Deus quer realizar na nossa vida e de algo novo que Ele nos convida a recomeçar...


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Uma tocha que queima o Amor Puro do Senhor

Ontem, mesmo antes da nossa oração familiar, a Clarinha choramingava pois doía-lhe uma unha do pé. 
-"Deixa-me ver Clarinha. Onde te dói?" Ela com receio que a magoasse segurou no pé e apontou .
-" É aqui. Dói-me muito mamã, não toques..."- E choramingava de novo.
-" Clarinha, a unha partiu-se um pouquinho e só está presa por um fio. Isso, não é nada! Eu puxo só um pouquinho e esse pedaço sai e não dói nada!"
-" Não mamã, vai doer muito!" E voltava a choramingar.
-"Não queres que eu mexa? Ok. Ela há de cair naturalmente..."
-" Não mamã, se não tirares vai doer muito...!" E voltava a chorar, agarrada ao pé.
-" Clarinha, queres que eu tire ou não? Senta aqui, eu puxo rápido e não vai doer nada, vais ver!" ela voltava  a choramingar e dizia que lhe  doía muito. Chorava porque queria que eu tirasse o pedaço da unha e chorava porque queria que eu não mexesse e insistia: " Vai doer muito, mamã". Mal ela me deu uma oportunidade de me aproximar para ver, nem em 2 segundos resolvi o problema.
-" Já está!"
 Ela parou de chorar e espantada olhou para mim.
- " Então, não doeu nada pois, não?" Ela sorriu acenando-me com a cabeça. Comecei logo a fazer-lhe cócegas na barriga e as duas rimo-nos às gargalhadas e eu pensava em todo aquele espetáculo de choro que ela tinha feito por nada.

Quantas vezes nós agimos assim, quantas vezes temos problemas que Deus vê que estão presos por um fio e Ele próprio nos quer libertar e nós ficamos agarrados a eles, a chorar ora porque queremos ficar sem eles ora porque temos medo que doa ainda mais ficar sem eles...e em vez de abrirmos o coração a Deus  e "entregarmos os pontos", agarramo-nos à nós próprios e achamos que sozinhos é que vamos conseguir alguma coisa...

Quantas vezes estamos agarrados a pequenas coisas e não abrimos mão delas para nos entregar ao Senhor! Até quando teremos a ilusão que temos força alguma para nos libertar dos nossos problemas sozinhos! É uma grande ilusão esta... David só conseguiu derrotar Golias porque ele confiava na força do Senhor. Ele lutou em nome do Senhor e não em nome próprio. Quando é que vamos nos decidir lutar em nome do Senhor? Ou querem continuar a sentir-se derrotados?

Sabem, uma grande parte da minha vida passei-a a sentir-me derrotada... Apesar de buscar de todo o coração o Senhor, eu continuava a sentir-me derrotada... Sabem porquê? Porque sempre que surgia um desafio ou problema eu só usava e contava com as minhas forças humanas. Sempre que nos fechamos em nós próprios, sempre que nos fechamos unicamente na nossa família ou sempre que nos fechamos em alguma situação, a força e o poder de Deus não consegue fluir em nós como poderia.

Descobri, quando comecei a servir mais a Deus, quando comecei a visitar o lar de idosos, a servir na catequese, no grupo de jovens, a dar tempo para levar o Senhor aos outros, que a força que agia em mim não era somente a minha, mas a própria força do Senhor!

Quando uma mãe da família ou um pai de família ou os dois decidem dar a Deus o primeiro lugar, a família não fica a perder antes pelo contrário! A união do casal é maior pois é o próprio Amor de Deus que os uniu no matrimonio que os inflama no amor e além disso, uma casa governada com pessoas agindo pela própria força do Senhor é uma casa alegre, onde os filhos se sentem muito abençoados! E o tempo em família não se mede só pela quantidade mas principalmente pela qualidade e entrega. 

A família que se entrega toda ao Senhor é uma tocha que queima o Amor Puro do Senhor! Não querem experimentar?

Abram os vossos corações e levem o Senhor a outras famílias! As vossas próprias famílias ficarão a ganhar e receberão muito do Senhor... 


Retiro de Famílias de Caná em Proença-a-Nova


Nossa Senhora de Caná - aguarela.jpg

Como a Teresa já anunciou no blog, dia 19 de Julho, domingo, a nossa Paróquia de Proença-a-Nova estará em festa. A Aldeia de Caná de Proença-a-Nova está a dar os primeiros passos e as novas famílias que entretanto estão a fazer a caminhada connosco, estão entusiasmadas com o retiro e com a oportunidade de partilharem este dia com a Família Power! Como é bom unir a nossa pequena Aldeia, à grande Família das Famílias de Caná!
O nosso coração também está aberto a todas as famílias que queiram juntar-se a nós! Mesmo famílias que venham de longe e queiram pernoitar, terão com certeza um acolhimento em casa de famílias de amigos nossos! Arrisquem e venham viver de perto um encontro pessoal com o Senhor em família!
Toda a informação acerca do programa e inscrições estão disponíveis em http://umafamiliacatolica.blogs.sapo.pt/

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Permanece em Mim

Quando estou sozinha em casa com os três, tenho momentos de grande aventura, diversão, trabalho mas também trabalho em equipa e de alguns momentos mais cansativos. Hoje compreendo que esta escola belíssima que é a maternidade é o caminho que eu precisava para me aproximar verdadeiramente da união com Deus.

- " Mamã, sabes como se consegue pilotar este avião? Olha, como tem esta curvatura aqui nas asas, ele consegue subir e voar melhor... Mamã, estás a ver?" O Gabriel falava entusiasmado e sempre a olhar para mim, enquanto a Clarinha puxava-me pelo braço e insistia: 
-" Olha, mamã! Olha, já consigo fazer esta ginástica e este salto! Tens que ver!" Enquanto isso, a Sofia agarrava-se às minhas pernas e choramingava, pois queria colo.
O Gabriel ao olhar para trás gritou:
-" Mamã, nem queiras saber o que a Sofia despejou no tapete?"
Enquanto, tudo isto acontecia eu só pensava: " Será que eu sou capaz de arrumar até ao fim a mesa sem interromper mil e uma vezes?" 

Há um tempo atrás ficava stressada e desanimada quando sentia que não dava conta do recado mas há uns dias atrás aconteceu uma situação semelhante e ao telefone partilhava ao Serge, toda contente:

-" Sabes, esta tarde houve muita festa cá em casa com os três! No meio de tudo aquilo, antes que o desespero tomasse conta de mim, comecei a rir à gargalhada à frente deles. Afinal, eles estavam só a brincar. Até parece que já me esqueci o que é ser criança! Eles ficaram a olhar para mim e começaram a rir também, eu só pensava: " Estas são as minhas prendas para ti, Senhor, permanecer na alegria, não deixar que o meu coração se perturbe, permanecer no teu Amor..."

Enquanto faço limpezas grandes lá em casa com os três, limpando móveis, o frigorífico, tirando o gelo ao congelador, fazendo o que tenho a fazer, o Senhor tem dito ao meu coração: " Tens tarefas a realizar, realiza-as o melhor que sabes. Mas lembra-te: o teu pensamento deve estar sempre em Mim, voltado para Mim, pede-me ajuda, deseja consolar-me com os teus sacrifícios."
 É assim, que se edifica uma grande Aldeia. Realizar as tarefas mais simples que Deus nos traz em cada dia como o trabalho, a lida da casa, ou o cuidar dos filhos, a família mas  sempre com o pensamento no Senhor.

Para escrever este post, tive mil e uma paragens pelo caminho, a Sofia a puxar-me, o Gabriel e a Clarinha a pedirem-me para ir buscar o avião de papel que aterrou do outro lado da estrada, fora do portão, enfim... O importante é que o post está cá e é dedicado a todos vocês. Se valeu os sacrifícios? Não tenho dúvidas!

Abençoados obstáculos, fracassos, dificuldades, trabalho que tenho na minha vida! Oferece-os com Amor ao Senhor e sei que são o combustível para edificar a Aldeia de Caná de Proença-a-Nova! 
É tudo o que tenho para oferecer: a minha vida. 
Se não formos nós os primeiros a oferecer ao Senhor os nossos sacrifícios, será que alguém se ofertará para o fazer no nosso lugar?