quinta-feira, 23 de julho de 2015

O nascimento da Sofia e o Senhor

Dos três partos o único que o Serge não esteve presente foi o da Sofia. Sabíamos à partida que era uma situação que poderia acontecer uma vez que ela iria nascer em Dezembro e o Serge tinha muito trabalho nessa altura. Estávamos à distância de duas horas e tal e como era o terceiro parto tudo podia acontecer. Mas isso não foi impedimento de ter vivido uma experiência muito intensa, eu diria até mais, foi o parto em que eu estive mais próxima do Senhor.
Quando fiz as quarenta semanas fui observada no Hospital.
-" Não há dúvidas, a Senhora está a entrar em trabalho de parto. Fica já internada." Esta foi a indicação que o Serge e eu ouvimos. O nosso olhar foi cúmplice. Estava quase a chegar a hora e até calhava bem pois ele estava ali ao pé de mim.

Fui internada. Quem me observava era unânime: bastava provocar o parto e a Sofia nascia, além disso, ela já devia estar bem pesadinha. Eu sempre desejei respeitar o tempo de cada coisa, esperar o tempo de Deus, estar atenta aos sinais, tentar não interferir. Eu perguntava sempre que era observada:
-" Está tudo bem comigo? Está tudo bem com o bebé?"
Se sim, porque tinha eu que decidir qual o dia em que ela iria nascer? Eu preferi esperar.
Estive internada duas vezes ( porque os médicos me diziam que estava em trabalho de parto, mas na verdade ainda não era a hora), cada uma das vezes, 2 ou 3 dias e na terceira vez que estive internada foi quando a Sofia nasceu.

Enquanto estive internada das duas primeiras vezes, havia alturas que já tinha bastantes contrações que alternavam com momentos em que não tinha nada. Os médicos diziam para eu caminhar para acelerar o trabalho de parto. A verdade é que nunca estive parada e o Senhor me proporcionou uma experiência que jamais me vou esquecer. Dessa experiência guardo muitas memórias que mais tarde espero poder contar à Sofia.

Enquanto caminhava pelos corredores do Hospital, conheci muitas histórias, falei com muitas grávidas, conheci muitas vivências dolorosas, com medos, sem fé. Eu estava lá, quando algumas grávidas entraram de emergência no hospital. Lembro-me de ir cumprimentar várias vezes por dia uma grávida que não parava de vomitar sempre que comia e que estava a soro. E as mulheres que tinham sido internadas comigo pela primeira vez já tinham todas tido os bebés, algumas tive a oportunidade de me despedir e visitar. Enquanto falava com uma grávida no corredor e meditava naquilo que acontecia à minha volta, disse comigo mesma: " Eu tenho que descobrir a capela do hospital!" E comecei a perguntar às pessoas se sabiam onde ficava a capela.
- " Capela?! Mas um hospital também tem capela?" E eu com um sorriso, sem responder, lá continuava  a tentar encontrar informações. Finalmente lá encontrei a capela. Abri a porta e senti um silêncio na alma. Estava vazia. A capela estava muito fresca, havia um silêncio profundo que até se ouvia o eco dos pequenos barulhos ao caminhar.  Falei com o Senhor no meu íntimo. Precisava tanto de sentir a Sua presença junto de mim, ter a graça e a benção do Senhor no parto da Sofia. Pedi também por todos os bebés que eu sabia que iriam ser abortados naquele dia, mesmo após de eu ter tentando falar com algumas mães, elas já estavam decididas...Mas supliquei de novo ao Senhor. Na porta, um contato de telemóvel, do capelão.
Não hesitei. Liguei logo para o número do capelão e disse-lhe: " Eu preciso de me confessar antes da minha bebé nascer!" Ele muito simpático e disponível marcou logo uma hora para me confessar.
Além da confissão, pude receber Jesus. Que alegria para mim! Senti-me tão abençoada, tão cheia de graça!"

Passado poucos dias a Sofia nasceu. Em duas contrações fortes ela saiu. Com a ajuda da enfermeira, eu puxei-a cá para fora e cortei-lhe o cordão umbilical. Ela mal saiu da minha barriga, ficou coladinha a mim, só coberta por uma manta, a mamar. Foi uma experiência fantástica do amor de Deus! Eu só me sentia grata por tudo. Fui encaminhada para um quarto com mais três mães e os seus bebés. 
No dia seguinte, na hora da visita, todas as mães tinham os seus acompanhantes e familiares. Nessa altura, eu estava a falar com uns familiares da mãe da cama ao meu lado. De repente, com um grande sorriso, vejo entrar no quarto o sacerdote que me confessou e uma irmã, que também era enfermeira.
-" Parabéns, mamã! Já soube que teve a sua menina! Venho-lhe trazer Jesus!"
Eu abracei-o e agradeci a visita.Como estava contente de poder receber Jesus de novo!

Ele disse-me:
-" Vamos fazer as orações antes de receber Jesus?" Eu acenei com a cabeça.
-" Em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo..."
Senti o olhar espantado e curioso de quem estava na sala, mas estava tão feliz que depressa me esqueci de tudo à minha volta. Naquela sala, durante uns minutos, dei testemunho público de que era católica e que amava o Senhor. Como eu desejo que o meu testemunho seja toda a minha vida...

Ao me despedir do sacerdote, a minha colega de cama disse-me:
-" Tens muita fé, não é?" Eu não me lembro das palavras, nem da minha resposta mas lembro-me de sorrir, pois estava muito feliz.

Mais tarde, ao deitar-me na cama para descansar, lembro-me de que a minha alegria se misturava com a tristeza de saber que muitas das almas que estavam ali não conheciam a graça de receber Jesus nem a benção que é ter um sacerdote...

Na verdade todos os momentos mais importantes da minha vida:  o meu casamento, o batizado dos meus filhos, os retiros espirituais, a caminhada da Aldeia de Caná em Proença são ou foram marcados com a presença e dedicação de um sacerdote. Sem ele como poderemos receber Jesus?

Partimos do pressuposto que ter perto de nós um sacerdote, é um dado adquirido, mas não é verdade! Quando compreenderemos o valor imenso que é a vida de um sacerdote?
É fácil criticarmos, encontrarmos defeitos... mas alguém se lembra  das dificuldades que eles passam na paróquia? Seremos nós capazes de apoiar, elevar, defender os sacerdotes das nossas paróquias? Um sacerdote é o rosto do Senhor na terra...


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